O envelhecimento é um processo natural e inevitável, mas a forma como ele se
manifesta em cada indivíduo é amplamente influenciada por escolhas de estilo de
vida. Dentre essas escolhas, a prática regular de exercício físico emerge como o pilar
mais robusto para garantir uma velhice não apenas longa, mas sobretudo saudável,
autônoma e com qualidade de vida [1]. Longe de ser uma atividade restrita à
juventude, o exercício na terceira idade é uma necessidade biológica e um
investimento na independência funcional.
Este artigo se propõe a explorar a profunda importância da atividade física para o
envelhecimento saudável, detalhando os benefícios multifacetados que ela
proporciona ao corpo e à mente, e, crucialmente, delineando os cuidados e
precauções que devem ser adotados para que essa jornada de movimento seja segura
e eficaz. A ciência é clara: o sedentarismo é um fator de risco, e o movimento é o
medicamento mais poderoso para a longevidade [2].
A Necessidade do Movimento na Terceira Idade
Com o passar dos anos, o corpo humano passa por alterações fisiológicas que, se não
forem combatidas, levam à perda progressiva de capacidade funcional. A atividade
física regular atua como um contraponto direto a esses processos degenerativos.
Combate à Sarcopenia e Fragilidade
Um dos maiores desafios do envelhecimento é a sarcopenia, a perda de massa e força
muscular que se torna comum após os 60 anos [1]. Essa condição é causada por
fatores como alterações hormonais, redução da síntese proteica e, principalmente, a
falta de estímulo muscular [1]. A sarcopenia leva à fragilidade, diminuindo a
capacidade do idoso de realizar tarefas cotidianas, como levantar-se de uma cadeira
ou carregar compras.
O exercício de força (musculação, treino funcional) é o único meio eficaz de reverter
ou reduzir o risco de sarcopenia, preservando a musculatura e a força, o que é vital
para a manutenção da autonomia [1].
Prevenção de Quedas: O Foco na Autonomia
As quedas estão entre as principais causas de lesões não intencionais e de morte na
população idosa, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) [3]. Elas são
frequentemente causadas pela diminuição da força muscular, arritmias, osteoporose
e, sobretudo, pela perda de equilíbrio e coordenação motora [3].
A atividade física, especialmente os exercícios focados em equilíbrio, marcha e
fortalecimento muscular, é a estratégia mais eficaz para a prevenção de quedas [4].
Estudos demonstram que o exercício físico pode reduzir em mais de 20% a taxa de
quedas em idosos [5]. Ao melhorar o equilíbrio e a coordenação, o idoso ganha
autoconfiança e independência, reduzindo o medo de cair, que por si só já é um fator
limitante [4].
Os Benefícios Multifacetados do Exercício Físico
A prática regular de exercícios na velhice não se restringe à saúde física; ela é um
investimento integral que abrange a saúde mental, emocional e social.
- Saúde Física: O Escudo Contra Doenças Crônicas
O exercício é um poderoso agente preventivo e de controle para as doenças crônicas
mais prevalentes na terceira idade [1]:
Doenças Cardiovasculares: A atividade aeróbica melhora o condicionamento
cardiorrespiratório, ajuda a controlar os níveis de pressão arterial e colesterol, e
fortalece o coração [1].
Diabetes: O exercício aumenta a sensibilidade à insulina, auxiliando no controle
dos níveis glicêmicos [1].
Osteoporose: Exercícios de sustentação de peso (como caminhada e
musculação) estimulam a formação óssea, prevenindo a perda de massa óssea e
reduzindo o risco de fraturas [1].
Articulações e Dores: O movimento adequado fortalece a musculatura que
suporta as articulações, reduzindo as dores crônicas nas costas e nas
articulações, e melhorando a flexibilidade [1]. - Saúde Cognitiva: Preservando a Mente
A atividade física tem um impacto direto e positivo na saúde cerebral, atuando como
um neuroprotetor [6].
Prevenção do Declínio Cognitivo: O exercício regular aumenta o fluxo
sanguíneo para o cérebro e estimula a liberação de substâncias neuroprotetoras
[3]. Isso ajuda a retardar o declínio natural de habilidades mentais como
memória, raciocínio, atenção e tomada de decisões [3].
Aumento do Volume Cerebral: Pesquisas indicam que idosos ativos possuem
um maior volume cerebral em áreas associadas ao desempenho cognitivo, em
comparação com idosos inativos [6].
Melhora do Humor: A liberação de endorfinas durante o exercício atua como um
antidepressivo e ansiolítico natural, melhorando o humor, a autoestima e a
qualidade do sono [1]. - Saúde Psicossocial: Conexão e Bem-Estar
A participação em atividades físicas em grupo oferece benefícios que vão além do
físico, combatendo um dos maiores males da velhice: o isolamento social.
Socialização: Aulas de hidroginástica, dança ou grupos de caminhada
promovem a interação social, combatendo a solidão e aumentando a energia e a
disposição [2].
Autonomia e Independência: A capacidade de realizar as atividades do dia a dia
sem ajuda externa (autonomia) e a sensação de controle sobre a própria vida
(independência) são cruciais para o bem-estar psicológico na velhice [2].
Tipos de Exercícios e Recomendações da OMS
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece diretrizes claras para a prática de
atividade física por pessoas com mais de 65 anos, enfatizando a importância de uma
combinação de diferentes tipos de exercícios [7].
Recomendações da OMS para Idosos [7]
Tipo de Atividade Frequência Recomendada Objetivo Principal
Atividade Aeróbica
Moderada
150 a 300 minutos por semana (em
períodos de pelo menos 10
minutos).
Melhorar o condicionamento
cardiorrespiratório e a
resistência.
Atividade Aeróbica
Intensa
75 a 150 minutos por semana
(alternativa à moderada).
Aumentar a capacidade
pulmonar e a saúde do coração.
Fortalecimento
Muscular
2 ou mais dias por semana,
envolvendo os grandes grupos
musculares.
Combater a sarcopenia,
aumentar a força e a densidade
óssea.
Equilíbrio e
Coordenação
3 ou mais dias por semana
(especialmente para quem tem
mobilidade reduzida).
Prevenir quedas e melhorar a
marcha.
Exemplos de Exercícios Indicados:
Aeróbicos: Caminhada, natação, hidroginástica, dança, ciclismo.
Força: Musculação com pesos leves ou o peso do próprio corpo, exercícios com
faixas elásticas.
Equilíbrio/Flexibilidade: Tai-chi-chuan, Yoga, Pilates, alongamentos [8].
Cuidados Essenciais: Segurança em Primeiro Lugar
Embora o exercício seja altamente benéfico, a segurança é a prioridade máxima na
terceira idade. A prática deve ser adaptada às capacidades individuais e sempre
supervisionada, especialmente no início [9]. - Avaliação Médica e Prescrição Profissional
O primeiro e mais importante passo é a avaliação médica periódica [1]. Um indivíduo
com mais de 40 anos e saudável deve visitar o médico pelo menos uma vez ao ano;
para aqueles com condições crônicas, a frequência deve ser conforme a orientação
médica [1].
Histórico Clínico: O médico deve avaliar o histórico de doenças (hipertensão,
diabetes, problemas cardíacos), o uso de medicamentos e a condição funcional
geral do idoso [9].
Prescrição Individualizada: O programa de exercícios deve ser prescrito por um
profissional de educação física habilitado, que irá adaptar a intensidade, a
frequência e o tipo de exercício aos limites e objetivos do idoso [9]. - Precauções Durante a Prática
A atenção aos sinais do corpo e ao ambiente é fundamental para evitar lesões e
acidentes.
Precaução Detalhe Fonte
Hidratação e
Alimentação
Manter uma ingestão adequada de água (cerca de 2 litros por
dia) e estar bem alimentado antes da atividade para evitar
hipoglicemia ou desidratação [10].
[10]
Vestuário e
Calçados
Usar roupas confortáveis e calçados adequados, que
ofereçam bom suporte e antiderrapantes, especialmente para
exercícios de equilíbrio [10].
[10]
Aquecimento e
Alongamento
Iniciar com um aquecimento leve e finalizar com
alongamentos para preparar e relaxar a musculatura e as
articulações [10].
[10]
Respeito ao Limite
da Dor
Evitar movimentos bruscos e interromper imediatamente a
atividade ao sentir dor no peito, falta de ar, tontura ou
qualquer sintoma incomum, procurando auxílio médico [1].
[1]
Ambiente Seguro
Para exercícios em casa, utilizar uma cadeira como apoio para
exercícios de equilíbrio e garantir que o ambiente esteja livre
de tapetes soltos ou obstáculos que possam causar tropeços
[1].
[1]
Monitoramento
Monitorar a pressão arterial e a frequência cardíaca, se
possível. Caso contrário, seguir rigorosamente as consultas
médicas periódicas [1].
[1]
Conclusão
O exercício físico é, sem dúvida, a chave para uma velhice saudável e plena. Ele não
apenas retarda o declínio físico e cognitivo, combatendo a sarcopenia e prevenindo
quedas, mas também atua como um poderoso promotor de saúde mental e social. A
longevidade com qualidade de vida é um objetivo alcançável, mas exige um
compromisso ativo com o movimento.
Ao seguir as recomendações da OMS e, principalmente, ao buscar a orientação de
profissionais de saúde para uma prescrição individualizada, o idoso pode desfrutar
de todos os benefícios que a atividade física oferece. O movimento na terceira idade é
um ato de autocuidado, um investimento diário que se traduz em mais anos de
autonomia, disposição e felicidade.
Referências
[1] CNN Brasil. Exercícios físicos na terceira idade: veja benefícios e cuidados. CNN
Brasil. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/exercicios-fisicos-naterceira-idade-veja-beneficios-e-cuidados/
[2] Governo Federal. Atividade física para idosos: por que e como praticar? Ministério
da Saúde. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/euquero-me-exercitar/noticias/2022/atividade-fisica-para-idosos-por-que-e-comopraticar
[3] Unimed Campinas. Atividade física e envelhecimento: saiba qual a relação e sua
importância. Unimed Campinas. Disponível em:
https://www.unimedcampinas.com.br/blog/cuidado-continuo/atividade-fisica-eenvelhecimento-saiba-qual-a-relacao-e-sua-importancia
[4] Scielo. Exercícios físicos e redução de quedas em idosos. Scielo. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbcdh/a/mrCPVNXB45wwhLRMdb6NwQR/?lang=pt
[5] PEDro. Nova revisão sistemática encontrou que exercício previne quedas em
idosos. PEDro. Disponível em: https://pedro.org.au/portuguese/nova-revisaosistematica-encontrou-que-exercicio-previne-quedas-em-idosos/
[6] Jornal da USP. Atividade física preserva cognição durante envelhecimento. Jornal
da USP. Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/atividade-fisica-preservacognicao-durante-envelhecimento/
[7] Secretaria de Saúde RJ. Confira as recomendações da OMS para a atividade física
na terceira idade. Saúde RJ. Disponível em: https://www.saude.rj.gov.br/atividade-naterceira-idade/dicas/2016/10/confira-as-recomendacoes-da-oms-para-a-atividadefisica-na-terceira-idade
[8] Tuasaude. 13 melhores exercícios para idosos (e principais benefícios). Tuasaude.
Disponível em: https://www.tuasaude.com/os-melhores-exercicios-para-a-terceiraidade/
[9] Trofa Saúde. Atividade física nos idosos: quais os benefícios e cuidados a ter? Trofa
Saúde. Disponível em: https://www.trofasaude.pt/artigos/atividade-fisica-nos-idososquais-os-beneficios-e-cuidados-a-ter/
[10] Governo Federal. Cuidados básicos que devemos seguir antes e depois das
atividades físicas. Ministério da Saúde. Disponível em: https://www.gov.br/saude/ptbr/assuntos/saude-brasil/eu-quero-me-exercitar/noticias/2017/cuidados-basicos-quedevemos-seguir-antes-e-depois-das-atividades-fisicas



























